Gênese do solo e aptidão agrícola

Olá Senhoras e Senhores

Desde os primórdios da evolução deste planeta, a crosta terrestre passou por inúmeras mudanças, e uma delas foi a deriva continental. O grande continente que existia no hemisfério sul, a Gondwana, em um dado momento sofreu uma separação lenta, em que América do Sul e África foram se distanciando. Neste mesmo período ocorreu o maior derramamento de lava da história do planeta. Este derramamento provocou alterações profundas na região em que se processou, e esta região está aqui no Brasil entre os estados do sul, oeste de São Paulo, sul e sudoeste de Minas Gerais e sul do Mato Grosso do Sul.

Nesta região, antes do derramamento, eram frequentes as áreas com arenitos, porém o basalto que foi lançado pelo vulcanismo se sobrepôs a rocha anterior e com o passar das eras deu origem ao que chamávamos de Terra Roxa, que era uma tradução enganada do rosso que em italiano significa vermelho. Mais precisamente estamos falando dos Nitossolos vermelhos. Esses solos possuem boa fertilidade pois são originados da decomposição do basalto, rocha básica, rica em minerais ferro-magnesianos, ao contrário dos solos originados do granito e gnaisse, os nitossolos são eutróficos e têm excelente aptidão agrícola, só olhar o tamanho da produção de grãos do Paraná que já dá para entender do potencial desses solos. Uma produção muito grande de grãos está baseada nesses solos, eles são de extrema importância para nossa economia, além de estarem em uma região de relevo mais aplainado o que facilita a mecanização agrícola.

Grande parte da produção agrícola brasileira está concentrada no centro-sul do país, e quando pensamos nessa região não podemos deixar de pensar no escudo cristalino brasileiro formado principalmente por granito e gnaisse, que são as rochas mais antigas deste planeta formadas no período pré-cambriano. Esses solos como mencionei anteriormente, não são tão férteis como os originados pela decomposição do basalto pois o granito e o gnaisse são rochas ácidas com elevado teor de sílica e com isso dão origem a solos em geral distróficos e com baixa capacidade de troca de cátions, além disso, não estão em regiões onde o relevo seja o mais adequado para a agricultura; nada disso porém evitou no passado e agora que esses solos fossem usados intensamente pelo homem. Afinal de contas, uma área bem manejada e bem estudada pode se tornar altamente produtiva. Claro que são necessárias pessoas com conhecimento técnico para tais atividades. 

O conhecimento de solos é fundamental para o sucesso produtivo e ambiental. A cafeicultura brasileira começou em regiões de solos desenvolvidos do granito-gnaisse, no vale do Paraíba no Rio de Janeiro, entre as serras do mar e Mantiqueira no período imperial, adentrou o estado de São Paulo via depressão periférica, depois chegou ao oeste Paulista e Paraná onde foi soberano na República Oligárquica até Getúlio Vargas. 

Existem características sutis no solo que mudam completamente o seu uso, por exemplo, o Complexo Bação, dentro do quadrilátero ferrífero. Uma área mais baixa dentro da área mineradora, onde os solos são mais ricos em caulinita e com menor teor de ferro o que os tornam muito mais susceptíveis à erosão quando em comparação com as regiões adjacentes. Também o exemplo clássico dos cambissolos nos “mares de morros” sendo solos com uma pedogênese mais recente, possuem muitos minerais facilmente intemperizáveis além de não possuírem uma estrutura tão formada como os latossolos e argissolos vizinhos e com isso são muito mais passíveis de erosão. Outro exemplo que é problemático é a drenagem de regiões com gleissolos tiomórficos (regiões de manguezal), onde a maior presença de oxigênio promove a oxidação do perfil do solo o tornando extremamente ácido e estéril. Infelizmente muitas vezes tais atributos passam despercebidos e a utilização do solo torna-se inadequada.

Temos uma diversidade de solos e relevo enorme no Brasil e um estudo mais adequado de quais áreas devem ser utilizadas para a agricultura é o básico para implementação de qualquer processo produtivo.


Final do tabuleiro costeiro em que se tem a transição de um argissolo para uma região de espodossolo em Mucuri-BA.

Novamente, esse assunto é muito maior e mais complexo do que o mostrado aqui, mas acredito que para quem é interessado no tema esse material já dê alguma ideia da realidade. De qualquer forma, interessados pelo assunto podem entrar em contato pelo e-mail e.medinaufv@gmail.com, no mais é isso.

Obs: a sugestão do tema foi feita por um amigo.

Um forte abraço
Medina

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